terça-feira, 23 de outubro de 2012

CORES QUE TÊM SABOR E AROMA.

Milhões de vezes, milhares de pessoas já tentaram descrever, detalhando cada nuance, cada recanto, a cidade onde nasceram, ou o lugar onde se apaixonaram pela primeira vez, ou aquele pedacinho especial do mundo onde foram especialmente felizes, uma ou muitas vezes, sozinhos ou com outros, não importa. Tentaram, e de repente até conseguiram, transportar pessoas para aquela paisagem que só existia no seu imaginário. Criaram um mundo tão rico em detalhes e cores que podia ser visitado apenas fechando os olhos, de qualquer lugar,  a qualquer hora, a todo instante.

A despedida do sol tem o tom alaranjado da abóbora madura. Não seria então cor de abóbora? Afinal não é amarela a laranja? Mas mesmo assim todos entendem perfeitamente o tom perfeito de um por do sol especialmente inesquecível. 

Os campos têm todos os tons que podem existir entre o amarelo e o ocre, passando pelo verde fresco das oliveiras ou pelo verde morno dos ciprestes, embora o verde não faça parte dessa mesma escala de cores e, que por ser cor, não tenha temperatura alguma.

O céu é de um azul compacto, intenso, limpo a ponto de ser um convite a um mergulho. Uma mistura de piscina com eternidade. Mas tem ao mesmo tempo a transparência capaz de permitir o traçado branco que denuncia o intruso avião que ousou passar por ali.

No alto das colinas, como curvas de um corpo mais roliço, às vezes uma pincelada cinza, às vezes um borrão de tinta ocre, registram que uma construção de centenas de anos ainda abriga pessoas com alguns anos de vida, que mesmo sendo vivas e em movimento, são capazes de preservar aquele cenário. Será que só para nosso deleite? E o que é ainda mais reconfortante: nunca iremos errar o caminho. Traços firmes, do chão em direção ao céu, naquele tal tom de verde morno, sinaliza como chegar até o afago de quem habita estas paisagens. Ciprestes nos levam até lá.

E então eu pergunto: com que cores se pinta a Toscana? Cores da alma de quem não se contenta em ver, mas quer também beber, comer e cheirar essas cores. Cores de quem é capaz de visitar e revisitar os mesmos lugares e mesmo assim ter a certeza de que nunca será suficiente para decorar e guardar na memória todos os detalhes. Cores que alimentam o espírito, quando ele tem fome. Mas que são as mesmas cores capazes de embalar a alma quando está plenamente satisfeita.


E foi dessas cores que mais uma vez me nutri, num percurso novo, que merece ser refeito mais vezes. Pouco mais de 300 quilômetros pelas estradas secundárias, saindo de Lucca para alcançar o sul da Toscana, na região da Maremma
Menos exploradas e, talvez por isso, especialmente tímidas, me deixei seduzir pelas pequenas Pitigliano, Sorano e Sovana, a menor de todas. Essas são as três mínimas maravilhosas razões para percorrer, mesmo que só por alguns dias, todas essas cores. Afinal, o resultado será o colorido novo da alma, com aquele tom forte e quente de 'toscanidade'.  E esse fica!